Mega comment de uma das minhas melhores amigas q eu coloco aqui a pedidos:
----- Original Message -----
From: Debora Yuri
To: Daniela
Sent: Thursday, November 28, 2002 2:08 PM
Subject: Impressões sobre o campo de centeio
Dani
Bom, estou aqui na redação da Folha, mas vou deixar as quinze (vinte?) matérias que tenho de apurar e escrever para poder curtir o Réveillon em Ipanema de lado para comentar seu blog. Isso é que é amizade...
Ele é bem cool, e como eu te conheço há muitos anos, muitos anos mesmo, acho sinceramente que você deveria:
1. Desencanar de achar seu Harry.
2. Desencanar de tentar descobrir quem são as pessoas que lêem o blog e não deixam posts e sim procurar pessoas com quem tenha mais afinidade.
3. Começar a fazer coisas que te deixem realmente feliz.
4. Mudar toda a sua discoteca (eu posso caridosamente te emprestar alguns muitos itens).
5. Ler Mark Lindquist.
Item por item.
Lindquist é americano de Seattle e quem gosta de música pop diz que ele é o "Nick Hornby ianque". E embora eu prefira muito mais Londres do que Nova York (pode me xingar, mas eu conheço alguns muitos países e para mim a única cidade que pode encarar Londres de igual pra igual é o Rio), e embora eu ache que a questão "Oasis ou Blur?" tenha sido muito mais fundamental do que "Nirvana ou Pearl Jam?", e que as bandas britânicas sejam muito melhores do que as americanas (com as honrosas exceções de Replacements, R.E.M. e Pixies), devo admitir que não sei quem é melhor: Hornby ou Lindquist.
"Sad Movies", do último, é um puta livro que te cairia como uma luva agora. Sem brincadeira. O protagonista é um total anti-herói, redator publicitário que vive em L.A., insatisfeito no trampo e com os amigos. Numa crise feia, enchendo a cara, traindo a namorada que ama e cheirando pó toda noite, ele marca uma data certa para se suicidar. Acontece que, enquanto os dias passam e a tal data certa vai se aproximando, duas pessoas e um cachorro começam a mudar definitivamente a sua vida... e ele enfim descobre o que o faz feliz. Tudo pontuado por trechos de clássicos de Smiths, The Cure, U2 e Replacements.
"It's a strange, sick world. It's ugly and getting uglier. It's cold and getting colder and there's no hope and no faith and so you have to have hope and faith or you're dead (...). So I want the life of a Magic Johnson or a Larry Bird. I want to play in a game with clear rules and a scoreboard." (Mark Lindquist, "Sad Movies")
Fora isso, eu te recomendaria, para sua "quarter-of-life crisis":
* "Nevermid Nirvana", um trocadilho com o segundo maior disco dos 90 (o primeiro para mim é "Out of Time"), do Lindquist também. É o "Alta Fidelidade" dele. Excelente.
* "Pergunte ao Pó", o melhor livro de todos os tempos, do mestre dos mestres John Fante.
* "O Apanhador no Campo de Centeio", do Salinger... Como imagino que você já leu, leia de novo... É impressionante como ele nos ensina coisas diferentes nas diferentes fases da vida em que o lemos - aos 12, aos 17, aos 21, aos 25... Acho que vou morrer com meu velho Salinger empoeirado e sagrado e com as páginas caindo na bolsa.
Quanto ao item 1. Achar uma pessoa legal. Isso acontece naturalmente depois que você conseguir se resolver consigo mesma. Parece bobagem psicanalística, mas não é. Acredito que você deveria procurar um emprego - ou, indo mais fundo, uma carreira - que te dê tesão e prazer. Essa é uma questão fundamental na vida aos 20 e poucos, porque é nessa idade que nós ainda podemos... chutar o pau da barraca! É como naquele trecho do argentino "O Filho da Noiva", que eu vi no último findi (é belíssimo), quando o cara diz: "Meu sonho é ir pra merda! Eu quero ir à merda!".
É isso. Nessa idade, nós podemos tentar muitas coisas, podemos ir à merda. Não tenha medo do risco/merda. De começar do zero/se ver na merda. Uma pessoa que não faz o que gosta não consegue ser feliz. (Despite de todas as crises que eu enfrento, ao menos eu amo o meu trabalho... Apesar dos fechamentos até duas da manhã e dos editores loucos e dos prazos insanos e das úlceras e das entrevistas com pessoas sinistras que você tem de fazer no sábado de manhã... As pessoas acham que vida de jornalista é apenas glamour e festa e viagem. Tá bom.)
O que nos leva ao item 2. Você deve mesmo investir em novos amigos, com quem se identifique. É difícil seguir em frente se não tivermos aquelas poucas pessoas que nos entendem e gostam do que a gente gosta e têm mais ou menos os mesmos valores e prazeres e... como é que se chama aquilo. "Visão de mundo". É isso. Temos de conviver com gente que tenha a mesma visão de mundo nossa. Isso nos (re)conforta, faz bem, mostra que não estamos "solos".
E o item 3 é uma coisa assim, tipo, um tanto quanto simples. "O que eu quero da minha vida? O que eu quero fazer dela?": essa é a questão que devemos responder, de preferência every single day ao acordarmos.
Você consegue respondê-la?
(Para mim: ainda falta muito, muito mesmo, mas três coisas básicas que eu quero desde os 12 anos eu tenho: eu sou jornalista, ganho dinheiro escrevendo e viajo pelo mundo.)
O que você quer desde os 12 anos? O que você quer fazer da vida?
Já comentei o item 5 e quanto ao 4... podemos ir à Festa do Garagem, a última já que o programa foi banido da Brasil 2000, este sábado, no Roxy. Que tal? Isso poderia imediatamente te levar ao item 2... e, possivelmente, ao 3...
"Possibilities. I open the door." (Lindquist, "Sad Movies")
Beijos
Dé (ou Deby ou whatever)
PS: Você tem idéia de por que diabos inventamos este apelido, "tia"? E a Dani? Ela lê seu blog? Eu gostaria de saber as impressões dela sobre tudo isso...
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