Ultimamente eu penso em Paraty, sinto o cheiro da maresia, o ar quente do litoral e penso nos quadros abstratos que vi em Paraty, no atelier daquele pintor que esqueci o nome, mas que em 2000 e pouco reencontrou uns quadros que ele havia pintado em 70 e pouco e ficaram esquecidos no porão de alguém em Paris. Ele comentou que olhava aqueles quadros e sentia por um lado um estranhamento, como se houvessem sido pintados por outro artista e por outro um conforto, por sentir que aquelas obras tinham saído da alma dele mesmo. Papo louco. I know. Mas foi uma ótima tarde.
Eu penso nisso porque sou uma pessoa verbal, literal, que se expressa melhor verbalizando sentimentos do que sentindo emoções, mas aí de repente a palavra me sumiu e ando me divertindo buscando cenas, fotos diárias, coisas que podem traduzir um monte de outras coisas diferentes, dependendo do que o filtro que quem estiver olhando mostrar. Eu fotografo uma coisa, as pessoas vêem outras quaisquer, talvez a mesma que eu, talvez não, talvez nada, só mais uma foto torta com um efeito computadorizado aleatório.
E aí chego no lugar das pinturas abstratas, que eu não gostava, mas que começaram a me atrair faz alguns anos, talvez a gente precise de bagagem para enxergar alguma coisa em um quadro abstrato, bagagem constrói os filtros necessários para ver além do borrão emoldurado.
Ou talvez o calor e estar cercada pelos cariocas esteja me enlouquecendo de vez.
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