quarta-feira, março 03, 2004

Era uma vez um garoto.
Era uma vez uma garota.


Essa história vocês já conhecem; garoto conhece garota. Garota gosta do garoto. Trocam olhares, telefones, bebidas, beijos, sentimentos e paixões. Típica história de humanos.

Começam a se conhecer, gostos, pessoas, amigos, um relacionamento. Mas as vidas são complicadas. É difícil juntar duas vidas e transformar em uma - mesmo quando se há sentimentos. Esforçam-se, fazem tudo possível para estarem juntos. Um tempo vago. Um almoço. Um fim de tarde. Um domingo. É sentimento, é paixão. Impossível dispensar coisa desse tipo.

Ele nunca se sentiu assim com alguém, tão próximo de si mesmo. Gostava da garota. Gostava mesmo, tentava faze-la feliz, aturava a TPM em dias críticos, levava para comer quando a fome batia de madrugada. Iam assistir os filmes - chatos em sua opinião - só para ve-la sorrir. Era a coisa mais linda que poderia existir, o sorriso de sua amada. Era lindo, iluminava seu dia, sua tarde, sua noite. Era mágico. Poderia haver guerras, doenças, chefe, mas era só olhar o sorriso dela que esquecia de tudo.


Ela gostava, havia definições de seus gostos. Ele era um cara legal, a tratava bem. Era isso que ela queria, apenas isso.

Meses se passaram. Outono. Primavera. Assim como os sentimentos dela.

Começou achar que era demais. Sufocante. Coisinhas, coisinhas no começo, tolerância. Depois ficou desagradável.

Pensou, terminou. Não quis mais. Era como se aquela coisa boa tivesse se transformado em um peso, um problema.

Passou um dia, uma semana.

"Cof cof".
"Deve ser o vento, a chuva", pensou.

Duas semanas, a tosse aumentava, a dor em sua garganta era grande, como se estivesse algo preso, sufocando a respiração. Um mês, e não passava. Dois, três meses. Procurou um médico, especialistas e nada. Rezadeira, pai-de-santo, padre, pastor, alguém tinha que ajuda-la!

Nada fazia com que aquela maldita tosse passasse.

Cof, cof, cof, cof, cof, cof.
De manhã, de tarde, de noite.
Tinha dias que lhe faltava a respiração, outros que não conseguia dormir.

E a cada dia, semana, mês a tosse só piorava. Ficou aflita. Uma dor na garganta. Sentiu-se fraca. Cof Cof. Tons da loucura rodeavam sua cabeça. Já tinha quase 6 meses e aquela tosse não passava. Se sentia sozinha, aquilo fez com que todos se afastassem dela.


Um dias desses, no meio da semana, que não se espera nada, nem ninguém, ouviu a campainha tocar. Era pra ela. Era ele, depois de meses sem receber notícias, soube que ela estava com esse problema.


Mal podia acreditar que aquela ali era a mesma pessoa de meses atrás. Estava mais magra, era difícil a mastigação. Pálida, encolhida em um canto, de olheiras. Pijamas.

Tentaram uma conversa. Mas é difícil com alguém que teve tanto sentimento e de repente se acaba. O que falar? O que não perguntar? O que ouvir? Não, não era tão fácil assim. Ele tentou papear minutos, ela desviava dele. Não queria. Era a última pessoa que merecia ve-la assim, fragilizada.

Tentou distrai-la. Contou piada. Os desafetos de Murphy com o mundo. Ela riu. Olhou pra cima. Outra crise estava para surgir. Agarrou-se no sofá, mas nesse instante, como em cena de filme, os olhares se cruzaram pela primeira vez desde o rompimento. Nesse instante, de olhares profundos, ela sufocou. Faltou respiração. Ele ficou em sua frente, segurando em sua mão.

Ar, ar, faltava ar.
"É agora, é agora que vou partir."
Essa era com certeza a maior crise.
Ar, ar.

E de uma vez só saiu. Dolorido, mas saiu. Forte. Aliviada, podia sentir que não havia mais nada em sua garganta, nem dor. Os pulmões agora recebiam melhor o ar. Sentia fome, o cérebro trabalhava melhor.

Era um "eu te amo" que estava preso em sua garganta.

(dica: troquem a palavra "tosse" por "saudade")


Wow, chorei (não q isso seja muito difícil, but anyway)... Escrito por esta garota

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